"Qual é a música?"
A pergunta é seguida de algumas solitárias notas ao piano, tocadas pelo maestro. Para ganhar o cobiçado prêmio, o ouvinte tem de continuar a melodia. Ele sua frio diante das câmeras. E lá vão seus neurônios em disparada vasculhar o acervo musical da memória. A recorrente cena televisiva leva a pensar nos meandros do funcionamento da mente humana. Mas, quando o assunto é música, o cérebro vai muito além dos desafios propostos pelos programas dominicais de auditório. Um estudo feito neste ano pelo Museu da Ciência CosmoCaixa em parceria com o Hospital Del Mar, em Barcelona, comparou o funcionamento cerebral de uma mulher sem o hábito de ouvir música com o de uma violinista profissional. Enquanto elas ouviam uma sinfonia de Dvorák, foram feitas ressonâncias magnéticas funcionais. Apenas o córtex cerebral responsável pela audição foi ativado na primeira mulher. A violinista, que estava estudando a sinfonia, além da região auditiva, teve outras duas áreas ativadas: uma relacionada à linguagem musical e outra capaz de planejar os movimentos corporais.
"Enquanto a violinista escutava a música, o cérebro dela enviava sinais para movimentar os dedos. Ela podia prever e planejar os movimentos dos músculos de acordo com cada parte da música", afirma o físico Jorge Wagensberg, diretor do Museu da Ciência CosmoCaixa, que acredita que o estudo musical, principalmente na infância, contribui para o desenvolvimento de áreas cerebrais responsáveis pela coordenação motora e pela cognição.
O estudo será apresentado na exposição "Música Mais Música", a ser inaugurada em Madri no mês que vem. O físico também está preparando uma pesquisa sobre o prazer de escutar música. Segundo ele, esse prazer está localizado no cérebro em um ponto muito delicado entre a antecipação e a surpresa. "Se o cérebro prevê tudo, a música fica chata. Se há muita surpresa, o ouvinte se assusta", diz.
De acordo com o musicoterapeuta Renato Sampaio, professor da faculdade de Musicoterapia da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), ter um momento para estudar um instrumento, mesmo que seja sem ter nenhuma pretensão artística, pode contribuir para o alívio das tensões do dia-a-dia. Mas, ao se dedicar ao estudo de uma forma um pouco mais séria, a pessoa desenvolve memória, percepção auditiva e raciocínio, entre outras coisas.
"Ao ler uma partitura, a pessoa treina interpretar signos e símbolos. Isso contribui para a formação do pensamento matemático, ainda mais em crianças", diz Sampaio. Segundo ele, o estudo da música também melhora a capacidade de prever situações: "Depois de algum tempo, é possível saber a hora que antecede o fim da música ou quando vai haver alguma mudança. Há uma internalização de formas musicais, feitas de repousos e tensões. Essa habilidade em abstrair é muito importante".
Concentração, coordenação de movimentos, leitura de sinais, tudo isso pode parecer muito mecânico, mas o estudo da música vai além. "Fazer música não é só seguir a partitura, tocando uma nota atrás da outra. Existe outro lado que é o da expressividade. A música ajuda a ter consciência de sensações e sentimentos", diz o musicoterapeuta. O arquiteto Márcio Ishibashi, 27, começou a estudar violoncelo recentemente e acredita que a música alterou sua percepção. "Quando toco o instrumento, paro de pensar no trabalho, pois a prática exige muita concentração", afirma ele.
Ao iniciar as aulas de violoncelo, a bailarina Joana Godoy, 20, percebeu que teria de desenvolver três qualidades: paciência, disciplina e concentração. "É legal porque são qualidades que me ajudam em outros setores da vida."
Os dois são alunos do CEM (Centro Experimental de Música), no Sesc Consolação em São Paulo, uma referência no Brasil em cursos de iniciação musical em grupo. Um dos fundadores do CEM, o professor de violoncelo e doutor em musicologia Leonel Dias afirma que hoje a referência musical da maioria das pessoas vem da indústria cultural. "As pessoas não têm idéia de que também existem trabalho e sofrimento na música. Não é essa a imagem transmitida pela mídia normalmente", diz.
De acordo com ele, começar a tocar um instrumento é sempre um desafio. Muitas vezes as posições são desconfortáveis e exigem esforço. E, no começo, os alunos sempre fazem mais força do que o necessário.
"Costumo dizer nas aulas que o instrumento é só um pedaço de madeira, ele não faz nada sozinho. O material trabalhado numa aula de música são as pessoas", diz.
De acordo com o professor, muita gente desiste de aprender música pois se sente frustrada logo no começo. Frases como "eu não levo jeito", "não tenho talento" ou "não sirvo pra isso" não são raras. Essa frustração é ainda mais recorrente em adultos, "que já seguram o instrumento com medo de errar".
Segundo ele, o ambiente coletivo, adotado no CEM, é muito mais eficiente para a introdução ao conhecimento musical. "Um aprende com os erros e acertos do outro e vice-versa. É preciso aprender a ouvir o outro. Todos têm dificuldades e facilidades em alguma etapa do aprendizado", diz.
A pianista e educadora Teca Alencar de Brito, dona da escola de música Teca Oficina de Música, em São Paulo, criou um curso de musicalização para adultos. "Vi que muitos pais, ao buscar os filhos na escola, mostravam grande interesse pelos instrumentos", diz a pianista, que desenvolve em sua escola um método "mais prazeroso" do que os "sistemas tradicionais de conservatórios".
Segundo ela, a música muitas vezes é encarada com misticismo, como uma coisa suprema, para poucos. "Na nossa escola, a prioridade é a formação do ser humano. A música funciona como uma ferramenta", diz.
A professora aposentada Luzia Bueno Brandão, 61, estuda canto na Teca Oficina há nove anos. "Foi um ato de coragem começar a cantar aos 52 anos", afirma ela, que define a música como seus "pilares emocionais". "O canto ajuda no autoconhecimento e cura as dores da alma. Mas, para cantar, também é preciso raciocínio", diz Luzia.
Fonte: www.reciclandoavisao.com.br/www.ameprod.com.
oi abençoada,
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